sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Caverna do dragão

Capítulo 1


            Terry estava nervoso. Após horas se revirando na cama, ele finalmente havia se dado por vencido, percebido que não conseguiria dormir, levantado e ido até o refeitório.
            Aquele era o dia mais importante de sua vida. O dia em que provaria que seu pai não era louco. Que provaria, que apesar da pouca idade, ele era um cientista muito capaz de liderar um dos maiores projetos científicos do mundo.
            - Não conseguiu dormir também?
            Terry olhou para o lado. Era Andrew, um dos cientistas que mais o apoiara durante todo o tempo em que trabalharam no projeto.
-        Você sabe que seria impossível dormir hoje. Fiquei me revirando na cama a noite inteira.
-        Imagino – disse o amigo. - Ainda mais por que aqueles militares pés no saco estarão aqui também. Acho até que eles já chegaram. Me dá nos nervos que nós estejamos na frente da maior descoberta da história da humanidade e não podemos divulgar nada pra ninguém.
-        O que me incomoda mesmo é aquele Jebediah. Não sei por que diabos deixaram um civil patrocinar o projeto. Uma coisa eu digo, aquele cara é podre até os ossos.
-        Ninguém fica bilionário do dia pra noite, como ele ficou, só com ações da bolsa – concordou Andrew. - Com certeza ele não presta. Mas é só um civil querendo lucrar mais do que deve. Não me importo mesmo tanto com eles.
            Depois disso, a conversa ficou mais leve. Falaram sobre o tempo, sobre o que fariam quando vendessem a patente da máquina, sobre seus nomes nas capas de todas as revistas e sobre como continuaria sendo difícil, mesmo ficando ricos e famosos, que alguma mulher quisesse algo com eles (maldito estigma de que cientistas são todos nerds).
            Após mais algum tempo conversando, ambos se levantaram. Os militares finalmente haviam chegado e era hora deles imortalizarem seus nomes no hall da fama da ciência.
            Andaram até o elevador e desceram uns vinte andares, até o imenso galpão onde a máquina se encontrava.
            O galpão era imenso. Na verdade, tudo ali parecia ter saído de um filme de ficção científica. A máquina era descomunal. Qualquer pessoa se assustaria com o tamanho dela. Possuía diversos tubos redondos e um grande circulo central bem no centro. Deveria ter aproximadamente uns cinco metros de altura. Vários cientistas faziam alguns últimos ajustes em todas as partes da máquina.
            Afastados uns três metros, estavam os cinco militares. Todos tinham mais medalhas do que espaço livre na roupa. Eram sem sombra de dúvidas das mais altas patentes.
            Acompanhando os militares, alguns assessores do governo e Jebediah.
            - Bom dia. - disse Terry a todos, cumprimentando um por um. - Como estão todos?
            Todos responderam com alguns resmungos, menos Jebediah que parecia genuinamente feliz. Terry sabia que todos os militares consideravam estar ali naquele momento uma perda de tempo.
            - Sem querer parecer rude filho, não gostaríamos de perder nosso tempo aqui. Quando poderemos ver a máquina em ação? - disse o militar que parecia ser o mais graduado de todos eles.
            - Agora claro. - respondeu Terry. - Por favor, sentem-se. Vou lhes explicar como funciona a MAGGIE.
            - Como todos sabem – continuou Terry após todas as pessoas tomarem seus lugares – Meu pai foi o idealizador deste projeto. Com sua morte, eu tomei a frente e graças a ajuda financeira de Jebediah, além desta experiente equipe que trabalhou comigo, conseguimos completar está máquina, que eu apelidei de MAGGIE em homenagem a minha mãe, que faleceu junto de meu pai.
            - Meu pai acreditava que o nosso universo não é o único. Muitos cientistas concordam embora não tenham provas, porém como vocês sabem, até o último dia de vida, meu pai jurava que ele havia vislumbrado um outro mundo, naquele estranho acidente de montanha russa que aconteceu alguns anos atrás no qual cinco crianças desapareceram. Ele então se aprofundou nos estudos sobre os universos paralelos e através de seus cálculos, criamos a MAGGIE. Infelizmente ele morreu antes de ver sua obra pronta. Mas posso garantir a vocês, que MAGGIE é capaz de abrir uma brecha entre diversos universos. Claro ainda não somos capazes de atravessar. E pra falar a verdade, a janela em que vislumbramos o que quer que tenha do outro lado é mínima. Mas conseguimos provar que existem mesmo multiversos e com o tempo e tecnologia adequados, talvez sejamos capazes de criar portais maiores. Alguém tem alguma dúvida?
            Alguns agentes do governo fizeram perguntas sobre o funcionamento de MAGGIE, como ela podia abrir espaços entre os universos, entre outras, mas por serem questões muito técnicas e que definitivamente não influenciam em nada nessa história, o melhor a fazer é se pular para a parte em que eles finalmente ligaram a MAGGIE.
            Um barulho ensurdecedor começou a tomar conta do ambiente. Diversas luzes piscavam e raios azuis de energia eram disparados para todos os lados. No princípio tudo aquilo parecia normal para os cientistas (embora os militares e demais pessoas do governo estivessem realmente assustados com aquilo tudo), porém, um dos cientistas berrou:
            - Terry, não sei o que está acontecendo. Não consigo controlar a energia da MAGGIE, os botões não respondem.
            Outro cientista disparou:
            - As energias estão a 170% e não consigo reverter. Continua subindo. Precisamos fazer alguma coisa ou MAGGIE vai explodir.
            As luzes começaram a piscar. Lâmpadas explodiam. Os cientistas corriam de um lado para outro como loucos, sem saber o que fazer. Terry berrava instruções que se perdiam no meio do barulho e da multidão. Os raios começaram a sair da máquina com cada vez mais força. O grande arco central, revelava (para os que não estavam nervosos demais para reparar em qualquer outra coisa) uma paisagem que definitivamente não era de nosso mundo.
            Os raios começaram a ricochetear por todo o ambiente com mais força. Atingiu um dos militares, que foi jogado ao ar antes de ser carbonizado. Gritos de horror tomaram conta do ambiente.
            Um a um, todos os cientistas foram atingidos. Os militares tentavam correr, mas de nada adiantava.
       Terry tentava desesperadamente reverter o que quer que estivesse acontecendo. Mas de nada adiantou. Um dos raios o atingiu nas costas. Ele sentiu seu corpo ser jogado ao ar e queimar. Apesar da coisa toda ter durado menos de três segundos, foi a pior dor que ele havia sentido na vida. Era como se todos os seus átomos estivessem se rasgando. Com um grito de dor, Terry ainda teve tempo de ver Andrew ser esmagado por um pedaço de MAGGIE que desabava, antes de tudo escurecer.

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